sexta-feira, agosto 31, 2007

Telefonema

Ainda não. Espero até que saias do banho. Aclaro a voz. Respiro fundo duas vezes. Não penso em palavras. Apenas na tua voz. Decorei o teu número logo que me o disseste mas guardo o papelinho onde o escreveste. Rias-te enquanto os desenhavas um a um. Lembro-me tão bem. Mesmo ter estado contigo de tarde agora à noite preciso de ouvir a tua voz. Decido telefonar-te. Sento-me. Pego no auscultador. 9 números. Naquele compasso de espera o meu coração dispara. O som de chamada é rapidamente sentido como uma onda. A bater na rocha. Pausa. Onda. Pausa. Atendes. Boa noite. Olá amor. Enquanto falas comigo enrolas o cabo espiral do telefone. Desenrolas e voltas a fazer o mesmo. Deitada de barriga para baixo e pernas flectidas. Digo-te que sentia saudades de ouvir a tua voz pelo telefone. Gracejas. E ris. Rio também. Pergunto-te que fazes. Respondes que tinhas vindo do banho e que agora ias para a sala. Respondo dizendo que tive a fazer tempo para te despachares do banho. Coras um pouquinho. Amo-te muito! Um beijinho. Dorme bem e até amanhã. Amo-te. Com alguma hesitação desligas o telefone. Viraste. Mordes ligeiramente o lábio inferior. Vais até a janela. Sentes saudades de estar comigo. Pousas a mão no vidro. Olhas para longe. Sorris. Andas até à sala. Ligas a luz. Sentas-te no sofá. Cruzas as pernas. Abres o livro. Adormeço e vou ter contigo. Estou aqui.

Telefono-te só para ouvir a tua voz.