segunda-feira, dezembro 31, 2007

Prenda

Natal. Tempo Frio. Decido-me a comprar uma prendinha para pôr no teu sapatinho. Em frente a lareira. Ando rua acima rua abaixo a procura duma. A chuva pouco incomoda mas molha as montras e deixa pequenos espaços secos nos vidros. Espero não te encontrar por aqui. É o único momento que consigo prescindir da tua presença. Embaraço. O não conseguir mentir. Atropelamento de palavras. Ainda não encontrei. Mudo de loja. Mudo de rua. Encontrei. É perfeita. Neste Natal era mesmo isto que eu te queria oferecer. Peço para embrulhar e deixar lá um papelinho. Só para tu leres. Vou para tua casa. Sinto-me em impaciente. Para te oferece-la. Pelo caminho a estrela baila no céu. Grande. Pisca várias vezes. Não me perco. Chego num ápice. Ficaste a janela. A ver as luzes que iluminam mais nestas noites. As cores. As decorações. As árvores. A ouvir as canções. Trautear. Abres a janela e dizes para subir. Destrancas a porta. Boa noite. Desculpas-te por teres ficado o dia todo em casa e estares mal arranjada. Não me importo de te ver assim. Cabelos desalinhados. Com jeitos. De pijama. Pantufas. Vamos para a sala no sofá junto da lareira. Reparas que escondo qualquer coisa nas costas. Mas finges não estar interessada. Passei por aqui para te ver. Pausa. E para pores isto no sapatinho. Ficas corada. Obrigado meu amor! Seguras na prenda com uma dádiva. Com suavidade. Pousas ao lado da árvore. Eu também não me esqueci. Levantaste e regressas com um saco com algo embrulhado. Agradeço e detenho-te com um beijo. Prometemos abrir as prendas apenas à meia-noite. Sem espreitar. Prometo. Perguntas-me se fico para jantar.

Ponho mais um tronco na lareira e abraço-te com calma.